Resumos

Painel I


University Experts in Institutions Connected with Colonial Affairs during the War Period - Fewzi Borsali (University of Adrar)

European and other powers have been struggling for the domination of most parts of the world, the preservation of which has depended basically on capabilities or expertise whether in the military field, political or even managerial sectors. The British Empire, the largest one in the world by the first half of the 20th c, could not undoubtedly be secured without the assistance of highly qualified Colonial Office officials, colonial governors and commissioners. They could resist the Germans' propaganda and eliminate their military forces in the First and Second World Wars.
Victory could not rest only upon military superior capabilities, for the latter required better expertise in military equipment, strategy and tactics on one hand, and on the mobilization of managerial capabilities of the various resources available and the search for others that would enable the British to secure their Empire. No doubt, British university institutions, especially Oxford and Cambridge had been the source of supplies of most governors, (AHM Kirk Green in Oxford review of Education, Vol. 7. n°1, 1981), and were associated in various advisory unofficial and official institutions connected with colonial affairs such as the Imperial Economic Committee, Empire marketing Board, International African institute, Advisory Committee on Education in the Colonies, Colonial Economic and Development Council, Colonial Labour Advisory Committee, Colonial Products Research Council etc, the great number of which had been created during the World Wars and others as a result of the Wars, for postwar reconstruction proved to be more difficult so as to overcome future catastrophe. Furthermore, the new Colonial Development and Welfare Policy Act of 1940 was which provided for £5 million a year and £500, 000 for research was to require British potential and namely university experts. For this purpose, for example, two important commissions composed essentially of British university academics had to investigate during the Second World War the state of higher education in the colonies and the possibility of imperial intellectual partnership. The paper attempts to identify the various institutions and the association of university experts in their activities during the war period.
The research paper is based primarily on the Colonial Office List and the archival material.

Fewzi Borsali held various posts, such as Head of the English Department, Director for Pedagogy and Postgraduate studies, chairman of scientific councils and Vice Chancellor (University of Oran). He is also a member of various regional and national committees on university education since 1985.
Some of his word include the following presentations: “The British Council: Background and Early Activities in West Africa", presented at an international conference, Mascara University, Algeria, April 29-30th 2013; "Cultural Relations between Algeria and the Mediterranean Countries 1962-1988", International Conference, May 2013, University of Tlemcen, Algeria; "The Impact of the First World War on the Gold Coast", Lisbon,Faculty of Social Sciences, July 11-13, 2013; "The Labour Government and Colonial Development Policy 1940-1950", Bristol University, British International History Group's 25th InternationalConference, Sept. 5-7 2013 and “The Colonial Office and Employment Policy in the Gold Coast 1940-1950”, International Conference at Kingston University, London, 12-13 September 2013.


O atrasado “sertão” fronteiriço: documentos, práticas discursivas e projetos ambientais no Pantanal Norte (1870-1930) - Ana Carolina da Silva Borges (UNICAMP)

O presente estudo tem como objetivo discutir e analisar o período correspondente a pós-guerra com o Paraguai no Brasil (1870) até o ano de 1930, tendo interesse maior sobre  uma pequena parcela dos moradores rurais fixados as margens dos rios Cuiabá e São Lourenço, região esta atualmente conhecida como Pantanal Norte. É possível vislumbrar que os quatro anos de Guerra com a Triplíce Aliança (1864-1870) marcaram a sociedade de Mato Grosso e, em especial, o Pantanal que foi um dos cenários que testemunharam o caos proveniente desse fato. As feridas abertas no período de conflito (como a crise dos setores agrícolas e de exportação e abastecimento, a diminuição populacional e a epidemia da varíola que causou inúmeras mortes e deformações) estavam longe de cicatrizar.  Observa-se que sobre esta área úmida localizada em  região fronteiriça, constituída por índios (Borôro, Guató e Guaná), brancos, livres, escravos e refugiados paraguaios, passivo de estabelecer relações comerciais mais amplas e relações diplomáticas com os territórios platinos, foi dada atenção maior aos homens, as mulheres e as crianças que haviam até então despertado pouco interesse por parte da elite mato-grossense e da elite do Estado Imperial e, posteriormente, Republicano. Nesse sentido é possível perceber o encaminhamento de projetos governamentais que com a prerrogativa de levar os residentes rurais a seguir os trilhos do “progresso”, possibilitavam inúmeras iniciativas políticas que atingia não apenas os moradores norte pantaneiros, mas também, a flora e a fauna local. O interesse e a necessidade de conhecer, cartografar, identificar, registrar as tidas pontencialidades do Pantanal Norte e inserir seus moradores a explorações agrárias vistas como “adequadas”, fizeram com que de modo geral, uma diversidade de tipologias registruais mencionassem com maior frequência os trabalhores agrários em questão e o meio que os cercavam. Levando isso em consideração há de se destacar que os grupos políticos proeminentes correspondentes aos anos de 1870 a 1930, que em sua maioria ocupavam cargos econômicos renomados e eram oriundos do universo intelectual, construíram, criaram, inventaram um conjunto de representações, intercaladas com outras práticas sociais, a exemplo da aplicação de leis ambientais, regularização territorial, projetos de colonização e expedições cientificas e exploratórias. Entender este processo, ou seja, o fluxo corrente que acionava o séquito de valores, normas e preceitos considerados “modernos” e “civilizados” que atingiram diretamente o espaço recortado se faz presente nesta pesquisa. Para tanto utilizaremos uma diversidade de documentos: os relatórios, falas, discursos e mensagens dos governantes provinciais e estaduais, o Album Graphico de Mato Grosso (1914), os processos-crimes, além dos relatos dos viajantes estrangeiros e nacionais.

Ana Carolina Borges é Doutoranda em História Cultural na UNICAMP, Bolsista FAPESP com o o projeto: “Entre agregadados e camaradas do Pantanal Norte: ‘representações sociais’, habitus e ‘mundo de vida’ (1870-1930)”, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Celso Miceli.


Incidências e coincidências: a arqueologia em Portugal e Espanha durante a II Guerra Mundial - Ana Martins (IICT)

Estudada desde finais de oitocentos por antropólogos e arqueólogos estrangeiros, a Península Ibérica atraiu sobretudo franceses e alemães demandando matérias sustentadoras de teorias sobre origens e difusões étnicas, reforçadas no século seguinte para estruturar agendas totalitárias. Enquanto isso, a Ibéria continuou a servir de palco a rivalidades franco-germânicas, revestidas, agora, de contornos científicos. Espanha era, no entanto, mais ambicionada, pela proximidade geográfica a França, pelo muito que já se conhecia da sua longa história, pela multiplicação de escolas de pensamento sobre o pretérito e relacionamento mais estreito com os seus estudiosos. Apesar disso, crescia a atenção sobre Portugal, a julgar pelo conteúdo de diversas fontes primárias e secundárias.
Entretanto, com a abertura do Museu Etnológico Português (1906); o reforço da Associação dos Arqueólogos Portugueses (1863); a multiplicação de escavações arqueológicas; a difusão de sociedades eruditas; a proliferação de coleções e museus regionais com materiais arqueológicos; a criação de cadeiras universitárias relacionadas com a atividade arqueológica; o papel da 1.ª República na gestão patrimonial; parecia viável consolidar agendas pessoais e coletivas na área arqueológica, esperançando a sua institucionalização.
Não obstante, Portugal não era Espanha, onde os apoios obtidos por esta ciência decorriam, em boa medida, de medrantes movimentos autonomistas, alimentando investigações alicerçadas em paradigmas transfronteiriços, com destaque para os alemães, quer por intermédio de espanhóis formados no seu âmago, quer por investigadores alemães escavando, escrevendo e leccionando em Espanha. Por uma série de circunstâncias, Portugal parecia manter-se um pouco à margem desta circulação e permuta de saberes. Houve, no entanto, quem se inteirasse dos axiomas germânicos, transpondo-os para a análise de materiais exumados no nosso solo e adaptando-os à interpretação do pretérito, quer endógeno, que exógeno (= colonial). Mais do que isso, as orientações principais da investigação conduzida entre nós na primeira metade do século XX desfrutaram de notório ascendente alemão, conquanto filtrado por especificidades nacionais, repudiando-se conceitos extremados, tão caros ao Instituto Ahnenerbe (1935-1946), ao mesmo tempo que se acolhia Vera Leisner (1885-1965) e Georg K. Leisner (1870-1957), especialistas em megalitismo.
Por outro lado, a ainda escassa comunidade arqueológica portuguesa soube aproveitar oportunidades únicas para fixar, mesmo que temporariamente, especialistas de renome internacional, enquanto a remanescente Europa mergulhava em conflitos sangrentos, mesmo quando o seu histórico pessoal adversava profundamente o ideário do Estado Novo. Nada, porém, comparável ao sucedido, coetaneamente, em Espanha, onde a II Guerra Mundial e o estreitamento à política nacional-socialista reorientou a investigação arqueológica e condicionou o futuro de alguns dos seus protagonistas.
Escrutinaremos, por conseguinte, o impacte real da presença de arqueólogos estrangeiros em Portugal e Espanha, entre finais dos anos 30 e meados da década de 40, cotejando teorias e práticas e analisando as razões das dissemelhanças divisadas.

Ana Cristina Martins é Investigadora do Instituto de Investigação Científica Tropical, no âmbito do programa Ciência 2007, onde incrementa projectos na área da História da Ciência, em geral, e da História da Arqueologia, em particular. Doutora em História, Mestre em Arte, Património e Restauro e Licenciada em História-variante de Arqueologia pela Universidade de Lisboa, em cujo Centro de Arqueologia – Uniarq – desenvolveu um projecto de pós-doutoramento sobre a Arqueologia em Portugal entre as décadas de 20 e de 60 de novecentos, sendo investigadora principal da linha “History of Archaeology in Portugal. Theoretical Issues”. Possui várias publicações na área da História da evolução do pensamento arqueológico, museológico e patrimonial, a maioria das quais resultante de comunicações apresentadas em encontros nacionais e internacionais. Lecciona na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa), na qualidade de Professora Auxiliar Convidada, coordenando a Secção de História do Património e da Ciência integrada no CPES-Centro de Pesquisa e Estudos Sociais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Preside, ainda, às Secções de Arqueologia e dos Estudos do Património da Sociedade de Geografia de Lisboa.


Painel II


A “Ciência Alemã” entre a Paz e a Guerra (1918-1945) - Cláudia Ninhos (IHC)

A dimensão assumida pela Ciência e pela Cultura durante o regime Nacional-Socialista começou a ser investigada pouco depois do final da II Guerra Mundial. Tal como todos os aspectos que envolvem este regime, também esta problemática despertou, a partir de então, um crescente interesse por parte da historiografia. Tem sido estudado o impacto que teve no desenvolvimento das várias disciplinas, como a Medicina, a Física, a Biologia, a Historiografia ou os Estudos Literários, entre muitas outras disciplinas. O papel das universidades durante este período tem também sido alvo da atenção dos investigadores.
Todos os trabalhos demonstram que a ciência produzida na Alemanha era já mundialmente reconhecida na primeira metade do século XX. Entre 1901 e 1914 os cientistas alemães que receberam vários prémios Nobel nas áreas da Física, da Química ou da Medicina. Por outro lado, as universidades e bibliotecas alemãs serviram mesmo de modelo às americanas, dominando a produção científica. A I Guerra Mundial provocou, no entanto, um grande abalo nesta produção, uma vez que os seus investigadores foram proibidos de participar em congressos internacionais na área das ciências naturais, proibição que durou ate à entrada do país na Liga das Nações. Os cientistas estavam, a partir de então, mais isolados e, no estrangeiro, desconhecia-se o que era feito nos laboratórios e nas universidades da República de Weimar.
A Alemanha, no entanto, procurou divulgar o seu know-how além fronteiras. Em 1925 foi fundado o DAAD, para promover o intercâmbio académico e foi lançado, por Karl Kerkhof, o periódico Forschungen und Fortschritte, para promover os progressos científicos. Para alguns autores, este boicote não afectou, apesar de tudo, o prestígio alemão. Entre 1918 e 1921 cinco cientistas alemães voltaram a receber o Prémio Nobel na área da Física e da Química. Na verdade, os académicos alemães eram convidados frequentemente por universidades estrangeiras e a ciência produzida na Alemanha manteve um estatuto elevado, sendo reconhecida a sua excelência.
A ascensão do regime nazi veio provocar o segundo abalo, desde o final da Grande Guerra. A partir de 1933 verificou-se uma “diáspora científica alemã”. Devido à perseguição de judeus, milhares de cientistas abandonaram a Alemanha, ocupando lugares cimeiros em universidades estrangeiras.
Sem dúvida que esta diáspora, assim como as inúmeras demissões e resignações afectaram a reputação da ciência praticada em instituições científicas alemãs. No entanto, a Alemanha, desta feita liderada pelo regime nazi, voltou a promover a ciência e a tecnologia desenvolvidas no país. Patrocinou, por exemplo, a venda de livros e de periódicos no estrangeiro, subsidiando as editoras para as compensar pela redução dos preços. Com o apoio do Auswärtiges Amt, a Academia Alemã transformou-se num importante centro promotor da ciência e do mundo académico alemão no estrangeiro. Publicaram-se os periódicos Deutsche Kultur im Leben der Völker e Deustche Unterricht im Ausland e promoveu-se ainda a visita de académicos estrangeiros à Alemanha e de alemães ao estrangeiro. A realização de conferências foi também muito valorizada pela propaganda alemã, verificando-se, no entanto, uma “selecção política” dos conferencistas.
O objectivo desta comunicação é, assim, compreender o impacto que as duas guerras mundiais tiveram no mundo académico e científico alemão. Para tal, analisar-se-á a política adoptada, quer pela República de Weimar, quer pelo regime Nacional-Socialista, para promover a produção científica e intelectual alemã no estrangeiro. Centrar-nos-êmos no papel desempenhado por algumas instituições- como o DAAD ou a Deutsche Forschungsgemeinschaft-, descortinando relações internacionais e o eventual antagonismo entre o “internacionalismo” e o “nacionalismo científico” naquele país.

Cláudia Ninhos é Investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Licenciou-se em História, em 2008, e obteve o grau de Mestre em História, área de Especialização em História Contemporânea, pela FCSH-UNL, com uma tese sobre a propaganda nazi em Portugal. Desde então tem vindo a desenvolver investigação em torno das relações entre o Estado Novo e o III Reich, tendo já apresentado alguns resultados em revistas e obras colectivas e em conferências, em Portugal e no estrangeiro. Neste momento encontra-se a realizar o doutoramento em História Contemporânea, com uma tese sobre as relações culturais luso-alemãs (1933-1945), como bolseira da FCT. Participou ainda em vários projectos de investigação, entre os quais «The Power of Science. German Science in Portugal (1933-45)», financiado pela FCT, e é coautora (com Irene Flunser Pimentel) do livro Salazar, Portugal e o Holocausto, publicado pelo Círculo de Leitores /Temas e Debates.


A recepção da Geopolítica enquanto nova ciência na Universidade no período pós-Guerra (de 1945 ao presente): O caso alemão - Marisa Fernandes (ISCSP-UL)

Resultado da perspectiva prevalecente durante muito tempo, e que por vezes ainda se mantém, confundindo a Geopolítica enquanto ciência com a Geopolitik do III Reich, verificou-se no pós II Guerra Mundial e principalmente no pós Guerra Fria, o surgimento de uma nova Geopolítica, distinta da Geopolítica Tradicional (em que se insere a Geopolitik do alemão Karl Haushofer (1869-1946)) que se acreditava ter motivado a II Guerra Mundial e ter sido um instrumento, ao serviço dos desígnios Nacional-Socialistas, para promoção do esforço bélico e fundamentação territorial e racial. Embora seja de referir que Haushofer foi introduzido a Adolf Hitler através de Rudolf Hess, era casado com uma judia, chegou a estar preso com o filho e teve mesmo este último morto pela Gestapo; no fim da II Guerra Mundial, a 10 de Março de 1946, Haushofer e a mulher Martha Meyer-Doss acabaram por se suicidar. Para Haushofer, Hitler nunca compreendeu correctamente os princípios de Geopolítica que lhe foram transmitidos por Hess, mas isso não impediu que a usasse de forma distorcida, contribuindo para que esta fosse encarada como uma ciência maldita.
Apesar do desenvolvimento da Geopolítica como ciência se ter verificado na Alemanha, na cidade de Munique, em 1924, com Haushofer, foi em França (com Lacoste mas também com Gallois, Korinman, Claval, Thual, Del Valle, Defarges, Foucher) e nos EUA (com Tuathail, Kissinger, Agnew, Dalby), que se verificou o desenvolvimento desta nova Geopolítica do pós Guerra, denominada de Geopolítica Crítica, uma Geopolítica cientificamente desvinculada dos Estados ou Impérios, sendo o seu principal objectivo a análise da Política Externa do Estado.
No caso alemão, apesar da importância conferida por tradição ao estudo do espaço, desde logo a partir do século XVIII com geógrafos como Alexander von Humboldt (1769-1859) ou Karl Ritter (1779-1859), a Geopolítica apenas (re)surgiu na Alemanha Reunificada do pós Guerra Fria, não apenas por causa da maldição existente em torno desta ciência associada com uma Guerra que tinha causado destruição, morte (sem olvidar o Holocausto) e caos; mas também por causa de tudo o que se tinha sucedido depois do fim da Guerra como sejam: a divisão da Alemanha pelas quatro potências vencedoras e a sua perda de Soberania; a divisão da Alemanha em duas Alemanhas, separadas pelo Muro de Berlim.
Assim, na Geopolítica da Alemanha do pós Guerra Fria, privilegia-se o tempo sobre o espaço, sem descurar a importância deste último nas relações da Alemanha ao nível bilateral e multilateral enquanto Estado Parte de Organizações Internacionais (como a União Europeia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte ou a Organização das Nações Unidas), sobretudo dada existência de um tempo tríbio (Moreira, 2005).
Persiste igualmente uma latente influência da Geopolítica, embora o termo não seja explicitamente utilizado nos discursos políticos alemães e se continue verificar a existência de um certo tabu na sociedade alemã relativamente a tudo o que respeita às relações entre política, poder e espaço (Wolkerdörfer, 1999), podendo levar a considerar que a Geopolítica na Alemanha é como um morto-vivo, adquirindo apenas sentido como ideologia, a mesma de que se adquiriu um trauma (Klinke (2011)). Todavia, a Alemanha do pós Guerra Fria tem vindo a recuperar o seu interesse nesta ciência, sobretudo por ser uma potência europeia de posição central num mundo globalizado. A Rheinische Friedrich-Wilhelms – Universität Bonn, na capital da República Federal da Alemanha entre 1949-1989, tem sido uma das Universidades alemãs que mais interesse na Geopolítica tem demonstrado, sem que este interesse seja ainda assim manifesto. Em 2012, foi publicada uma tese de Geopolítica da autoria de Nils Hoffman, intitulada Renaissance der Geopolitik? Die deutsche Sicherheitspolitik nach dem Kalten Krieg. O departamento de Geografia tem igualmente uma publicação internacional, Erkunde, onde são publicados artigos contendo o termo Geopolitik, na maioria das vezes em acompanhamento da Geografia Política, da Geografia no geral ou do conceito de espaço. Também o Institut für Germanistik, Vergleichende Literatur und Kulturwissenschaften da mesma Universidade dispõe de uma secção para vergleichende literaturwissenschaft/komparatistik na qual a Geopolítica aparece.
A pouco e pouco, a Geopolítica como nova ciência está a (re)surgir na Alemanha actual, por autores que se têm debruçado sobre a Geopolítica na sua relação com a segurança e o desenvolvimento económico (questões energéticas); ou tendo como ponto de partida a Geografia; ou ainda na relação da Geopolítica com a Economia.

Marisa Fernandes é doutoranda em Ciências Sociais (na especialidade de Estudos Estratégicos) no ISCSPUTL, encontrando-se a desenvolver uma tese sobre a Geopolítica da Alemanha no período pós Guerra Fria. Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais (área de especialização em Relações Internacionais) pela UNL. Actualmente é Investigadora no Centro de Estudos Africanos e Brasileiros (CEAB) do ISCSP-UTL.


Painel III


Martin Heidegger and WW1: The Brutalization of a Scholar? - Guillaume Payen (Université Paris-Sorbonne)

In his 1933 course about the essence of truth, commenting the famous Heraclitus phrase Struggle is both the father of all things and the king of all things”, German philosopher and rector in charge of the Freiburg University Martin Heidegger set as a goal the “total annihilation” (völligen Vernichtung) of the “enemy”, who “can have attached itself to the innermost roots of the Dasein of a people and can set itself against this people’s own essence and act against it.” The example of Martin Heidegger suggests that the universities formed no exception to the process of 'brutalization', consequent to the First Word War.
The notion of 'brutalization' has been introduced in these terms by George L. Mosse in his celebrated 1990 book Fallen Soldiers : “The continuation of wartime attitudes into peace furthered a certain brutalization of politics, a heightened indifference to human life5.” Mosse's purpose was to understand the violent shift in German politics after WW1 and its link to the rise of Nazism ; he pointed as cultural symptoms of this brutalization “the vocabulary of political battle, the desire to utterly destroy the political enemy, and the way in which these adversaries were pictured”, all seeming “to continue the First World War mostly against a set of different, internal foes.”
My paper will aim at understanding the brutalization of Martin Heidegger's discourse until 1933 and this mention of the “total annihilation” of the internal “enemy”, and to evaluate the action of the war itself on this academic. I shall sketch the preexistence of a struggle speech by Martin Heidegger before the war, as both a result of militarism and his catholic milieu in a time of a long and harsh confrontation with liberalism ; then the radicalizing effect of his experience of army and combat, leading Heidegger to incorporate many more military terms in his discourse, becoming more and more virulent against society, state and church ; I will finish with the analysis of his gradual development of a struggle philosophy in contact with his friend Karl Jaspers, his wife Elfride, who neither of them went into battle, and I will stress the crucial impact of the rise of Nazism after 1930 on Heidegger's philosophy, which explains his final radicalization and the first mention of the internal “enemy” : for the emergence of the full symptoms of brutalization, many other factors than war have therefore to be taken into account. The war itself had a great deal of importance on the evolution of Martin Heidegger, leading him to the desire of a spiritual revolution starting from the universities ; but the war cannot explain this change without, during the wartime, the beginning of a relationship with Elfride Petri, the daughter of a protestant Saxon officer, and his conversion to the ideals of authenticity and responsibility of the German Youth Movement (Jugendbewegung), as well as his subsequent rupture with Catholicism.

Guillaume Payen is a Lecturer of History at Université Paris-Sorbonne and a Postdoctoral fellow at the Fondation pour la Mémoire de la Shoah (Paris) for a research entitled: «L'antisémitisme de Martin Heidegger (1889-1976), entre histoire et philosophie». He as also a Ph.D in history, with « Très honorable » grade, for a thesis entitled “Racines et Combat. L'existence politique de Martin Heidegger. Patriotisme, nationalisme et engagement d'un intellectuel européen jusqu'à l'avènement du nazisme (1889-1933)” defended on 4 December 2010 in front of a jury assembling Professors Jean-Paul Bled (thesis supervisor, Université Paris-Sorbonne), Jeffrey Barash (Philosophy, Université d'Amiens), Rainer Hudemann (Universität des Saarlandes, Germany), Édouard Husson (Université d'Amiens), Olivier Lazzarotti (Geography, Université d'Amiens), and Hugo Ott (Albert-Ludwigs-Universität, Freiburg in Breisgau, Germany).


The development of a militaro-academic complex: the case of the american political science - Allan Haye (Université Rennes 1)

This intervention aims to explore the deep ties between the academic development of American political science and foreign policy of the United States in the twentieth century. More specifically, this is an attempt to show how the American political scientists, as the United States emerged as a superpower, were gradually integrated into a vast military-academic complex responsible for promoting the interests of the United States in the academic and intellectual fields.
The origins of this relationship can be traced back to the First World War which inaugurated the first forms of collaboration between political scientists and military and governmental institutions, mainly in the Committee on Public Information, responsible for anti-German propaganda. Nevertheless, it took the Second World War for a new knowledge / power relationship was born. To meet its vital need of information about both the home front and the conduct of military operations, the government appealed to hundreds of social scientists who, like their colleagues in the hard sciences, took part in multiple research programs. Several study areas were emphasized: the study of morale and psychology of soldiers, the analyse of the problems of hierarchy and command, the assessment of the military-industrial production ... At the head of the "Experimental Division for the Study of War Time Communications," Harold Lasswell regrouped many social scientist, including Paul Lazarsfeld, Heinz Eulau, Karl Deutsch, Morris Janowitz, who were tasked to study and counter enemy propaganda. This innovative unit became one of the major components of the intelligence and psychological warfare apparatus working on behalf of several national security agencies, including the Office of Strategic Services, the Office of War Information and Research Branch of the Division of morality. Major projects such as the U.S. Strategic Bombing Survey, responsible for studying the effect of the bombing on the enemy’s morale, allowed the political scientists to work with sociologists and psychologists, generating a particularly fruitful interdisciplinary ethos and improving their mastery of statistical tools and quantitative survey methods.
More than just a positivist revolution, the development of behavioralism and theories of modernization in the post-war period must also be understood in the context of the annexation of the social sciences by the Cold War and the massive participation of political scientists to the ideological offensive against communism. Thus, during the 50’s/60’s, the military, the CIA and propaganda agencies widely financed major research projects in the social sciences, designed to support the full range of national security projects to counter the influence of USSR in the Third World. These programs were based mostly on a combination of techniques and perspectives from the social sciences (measurement of public opinion, study of propaganda and communications) with various advanced methods of engineering (for command and control, weapons management, transports ...). It is also possible to talk about the creation of a vast military-academic complex resulting from multiple networks linking federal administrations, national security agencies, universities and private foundations. The TROY project thus recommended the establishment of secret study groups whose main task would be to advise the State Department to lead the U.S. propaganda across the Iron Curtain. The Center for International Studies at MIT or the Institute for International Studies at Yale were widely used as an auxiliary intellectual institution to government agencies responsible for foreign policy. Similarly, most of the academic leaders of the time (Gabriel Almond, David Apter, Lucian Pye, Harold Lasswell, Ithiel de Sola Pool) served as consultants for the U.S. Psychological Strategy Board, coordinating the work of various military and civilian agencies and think tanks linked to defence and national security matters: the Rand Corporation, the Office of Naval Research, the Advisory Science Board of the U.S. Air Force.
Marked by race riots, the stagnation of the Vietnam War and radical protest, the end of the 60's saw the decline of the military-academic complex. Launched in 1965, Project Camelot explicitly aimed for social scientists to develop strategies against insurgency in Latin America. Its public revelation caused intense controversy amongst political scientists, many of whom thought it was contrary to their professional ethics. The end of the Cold War, however, did not put an end to the relationship between political scientists and national security agencies, it simply changed terms and forms, giving way to more flexible and indirect links transiting less by academic institutions as such, but rather led to the creation of multiple networks of "think tanks" and private expertise agencies.

Alan Haye is a lecturer in Political Science at the Université Rennes 1. Has a PhD in political science under the direction of Professor Jean Baudouin with the thesis: The behavioralist revolution has not taken place. A paradigmatic history of American political science in the twentieth century. Some of his publications include «The new developments of the historiography of political science », in Southern Journal of Political Theory, 2012 and « Les théories pluralistes de la démocratie aux Etats-Unis : une approche généalogique », Actes du colloque de Poitiers « Qui gouverne aux Etats-unis et en europe ? » (2012), MIMMOC, PUR, 2013.


War implements in commerce, an experience - Selwyn Berg

It is one experience to discuss the academics of Government financial intervention into commerce, but it is another to live it. As an American academic, I can claim both.
As early as 1941, I remember my father returning early from work. The laundry factory he worked for had been shut down by the government. This very useful commercial company that employed many people and provided an essential service for the residents of New York City was not able to pay a balloon payment for the New Deal loan it had received, and was bankrupt There were many such experiences. However, this was no big problem, as in 1941, the United States Government entered into a LEND/LEASE agreement with England to produce war goods to England and the Kaiser Shipyards (fully financed by the U.S. government ) was mass producing cargo ships.
My father immediately got another job until he changed work to go to Detroit in mid 1942 to build tanks for America at war at the Willow Run factory—the largest factory in the world fully financed by the American Government. That factory was later used to produce the ill fated Kaiser/Frazer as well as the Tucker car.
In 1955, my advanced degree in optics was financed by the War department on a project that was seeking some answers to see if a catalytic engine could be built using ionized Nitrogen in the stratosphere. From here, I went to work for Westinghouse Commercial Atomic power in Pittsburgh to work on the Atoms For Peace Program which utilized technology devolved at the Navy Owned Bettis/Westinghouse plant. The first Reactor was at Shippingport. This was fully financed by the Atomic Energy Commission. As a pioneer in commercial Nuclear Energy, I was a guest scientist at Brookhaven National Laboratory which had been old WW-1 Camp Upton where my father had done his basic training in WW1. Brookhaven was operated by Associated Universities which included Cornell University. Cornell University invited me to join their staff on a special program which permitted me to get my Ph.D in Nuclear Physics. My Doctorial Dissertation was primarily financed by the AEC (Atomic Energy Commission) by a grant that earned the reputation of being the most efficient grant per written word to date at Cornell University (primarily because of the price of fissionable nuclear material). After leaving my post at Cornell as assistant director of the nuclear laboratory, I went to work for Aerojet in Azusa on NERVA which was an effort to develop a nuclear rocket for space exploration, funded by both NASA and the AEC. Destructive reentry indicated problems and the project was abandoned in favor of the Von Neumann Braun approach. A relative of mine worked closely with Von Neumann Braun. To me, Von Neumann Braunwas a war criminal according to the Nuremberg Trials definition. In 1970 while working again in optics and electronics for Aerojet an interesting chip was placed on my desk and a challenge to test it. It was a microchip of about 2000 miniature photodiodes which had to be tested for uniformity from diode to diode in a short time. I built an electronic testing system operating at several kilohertz which did it. This was the heart of a new kind of gun camera with work funded by the Air Force. This device is now in almost every home in the world as the improved version constitutes the heart of the focal plane of every digital camera in the world.
From 1996 to 1999, I was a full time consultant at the American National Academy of Sciences (NAS) where I was an officer in the IDEA program (an acronym standing for Innovation Deserving of Exploratory Analysis) where I administered distribution of funds from the National Transportation Agency to small businesses to implement concepts to useful projects. I spent a good portion of a lifetime, but never received a United States Government paycheck. These were all contracted programs to the government. This is in a country that rejects any form of socialism. The fascinating part of the whole episode is that this well shows the benefit of Government funding that brings about benefits to society.

Research Scientist in Nuclear Reactor Development, Westinghouse Atomic Power in Pittsburgh, Pa., 1956-59. Research Assistant, Cornell University Engineering Physics Department, 1959-61. Various positions as a Scientist and research engineer in the California Aerospace Industry, working for Aerojet, Conductron, Perkin -Elmer, Lockheed, Hughes from 1962 to 1972. Research Grant from NIH to study the "FLOW OF VITAL BODY FLUIDS" to City Of Hope Medical Research Center, Cardiology Department, Duarte, Ca., 1972-74. California Polytechnic University, Pomona, California, Part Time Instructor in Physics Department, 1975-79. Mesa Community College, San Diego, California, part-time instructor in Mathematics and Physics Department, 1980-1984. University Of California, La Jolla; Extension: developed and taught a course on Intellectual Property; 1982-84. New Bern Community College; New Bern, NC; taught Chemistry and Algebra ; Winter, 1995. Program Officer at the National Academy of Sciences/ National Research Council/Transportation. Research Board in the IDEA Program performing various project supervision tasks and monitoring. Lifetime California State Community College Teaching Credential, Number 246932, for teaching Physics, Mathematics, Engineering and Law, issued 1981.


Painel IV


Memórias da Grande Guerra: Jaime Cortesão um intelectual na guerra - Ana Dâmaso (IHC)


Jaime Cortesão nasceu em 1884 perto de Cantanhede, indo morar mais tarde para Coimbra. A sua vida de estudante universitário passou pelos cursos de Grego, Direito e Belas-Artes terminando o curso de Medicina que no entanto exerceu durante muito pouco tempo. Dedicou-se a outras actividades, nomeadamente ao ensino (nos liceus e mais tarde nas Universidades Populares criadas durante a República), à literatura e à política.
As suas tendências literárias e o seu interesse pela política vincaram toda a sua vida de adulto em Portugal e no estrangeiro. Já durante os anos de estudante colaborou na concretização de diversas publicações que marcaram a vida intelectual do primeiro quartel do nosso século (A Águia, Renascença, Seara Nova). As suas actividades políticas, iniciadas ainda durante a Monarquia, participando activamente na conspiração republicana que iria conduzir ao 5 de Outubro de 1910, nas movimentações políticas conducentes à queda da ditadura de Pimenta de Castro em 1915 opondo-se também ao sidonismo e salazarismo, o que lhe valeu a prisão por algumas vezes e o exílio para alguns países como o Brasil.
Apesar da sua vida ser bastante preenchida, nesta comunicação iremos concentrar-nos contudo na sua experiência durante a 1ª Guerra Mundial (para a qual foi como voluntário trabalhar como médico), através da análise do seu livro Memórias da Grande Guerra, mantendo sempre em atenção o seu percurso académico e político.

Ana Dâmaso é licenciada em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas em 2008 encontra-se neste momento a terminar o segundo ano de mestrado em História Contemporânea na mesma universidade com o tema da primeira guerra mundial em Lisboa – vivências e percepções. É investigadora do Instituto de História Contemporânea desde 2012.


O papel da universidade no desenvolvimento da mulher em tempo de guerra e o papel da mulher na manutenção da guerra - Sónia Correia (IHC)

A presente submissão pretende explorar e divulgar a ação da mulher comum e da mulher cientista no período de 1939-1945.
Com um início expressivo na área médica, as mulheres vão expandindo a sua atuação para outras funções, tornando-se até mesmo pilotos de bombardeiros e atiradoras de elite.
Desde a Primeira Guerra Mundial as mulheres foram pouco a pouco ocupando o espaço público, mesmo que temporariamente. Sua atuação em indústrias e fábricas aumenta durante a Primeira Guerra Mundial, mas atinge seu auge alguns anos depois, quando são maciçamente convocadas para suprir o esforço de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. A Inglaterra foi neste caso, a primeira a perceber que precisaria recorrer às mulheres para suprir a mão-de-obra masculina, que estava nos campos de batalha. Segundo Claude Quétel, as mulheres estavam incluídas no programa de esforço de guerra declarado por Winston Churchill em 1940 e não encontrariam grandes resistências em relação a isso1. O número de voluntárias não foi suficiente para suprir as necessidades. Assim, em Abril de 1941 o governo acaba por instituir o recrutamento de mulheres para o esforço de guerra, poderiam optar por empregos civis, auxílio ao exército e defesa civil.
Na América e em Inglaterra a mulher foi aproveitada para integrar o trabalho nas fábricas, como enfermeiras, médicas e no apoio logístico. Na Ford foram implantados gabinetes de maquilhagem e cabeleireiro para as mulheres serem produzidas de forma a iniciarem a jornada de trabalho muito bonitas, uma maneira de continuar a manter e preservar a imagem da mulher perfeita e não criar o lóbis da masculinização feminina. Voluntárias eram treinadas para o corpo de infantaria, no apoio às vítimas de bombardeios e no combate aos incêndios.
Em diversos pontos europeus as mulheres a mulher exerceu funções principais que permitiram a sustentabilidade da ação aliada, um desses casos é o de Lyudmila Pavlichenco, atiradora russa que até ao final da guerra matou 309 alemães, foi considerada a melhor atiradora feminina da história. As WAC – Membros do corpo do exército feminino, o primeiro contingente era composto por negras e brancas americanas, saíram de Nova Iorque a 2 de Fevereiro de 1945. O serviço auxiliar territorial inglês era mantido sob o atento olhar das controladoras de holofotes que vigiavam a aproximação de bombardeiros. Colocadas em postos de responsabilidade e logística de ação militar, algumas condecoradas em honra da sua contribuição e desempenho. As ATS – Ack Girls, membros do serviço territorial auxiliar trabalhavam nas ações de armas antiaéreas.
Em 1939 a Polónia, sofre a invasão alemã, as mulheres da infantaria de imediato se munem do seu equipamento militar e marcham pelas ruas de Varsóvia para proteger o seu povo.
No outro lado do conflito, os alemães só tardiamente recorreram ao apoio feminino. Na primeira fase da guerra o principal interesse da mulher ariana era procriar com soldados das SS de forma a fazer persistir a raça pura e superior, criando-se o Programa Lebensborn.
A clara exceção deu-se com a aviadora alemã a capitão Hanna Reitsch, que em Abril de 1941 é condecorada pelos seus exímios serviços no desenvolvimento de aviões e armamento militar.
Na segunda fase do conflito foi necessário investir na participação feminina. Era usual ver como condutora de veículos de guerra. As mulheres eram usadas no exército vermelho como elemento de infantaria sem nada que as distinguisse ou protegesse face aos homens. Por fim, as mulheres e até mesmo as crianças serviram como elemento defensivo. Após a perda da Alemanha e com o país em ruínas, foram as mulheres que ficaram encarregues, pagas pelo serviço, de levantar os escombros provocados em Berlim.
Aqui verificamos duas realidades distintas. Pelos aliados as mulheres eram tratadas como seres delicados, preservando-se a sua imagem e beleza. Do lado do eixo, especialmente da Alemanha surgem relatos de mulheres pertencentes às forças militares que eram inseridas nas tarefas militares sem conceitos de beleza ou feminismo, vistas como homens, tratadas como homens, treinavam de igual para igual.
O primeiro corpo de mulheres guerrilheiras nasce nas Filipinas em 1941.
A União Soviética foi o único país que deixou as suas mulheres combaterem oficialmente.

Sónia Correia é licenciada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e mestranda em História Contemporânea na mesma faculdade desde 2011, sob a orientação da Professora Doutora Maria Fernanda Rollo, com a tese “Mulheres e a Ciência”. Investigadora do IHC-Instituto de História Contemporânea desde 2010. Oradora na conferência Mulheres entre guerras em Junho de 2012 no IHC. Investigadora da editora Caleidoscópio desde Julho de 2012. Investigadora do livro Beira, urbanismo e arquitetura. Revisora do livro São Tomé e Príncipe-Urbanismo e Arquitetura. Membro da organização do Workshop Objetos da Ciência, ocorrido em 8 de Março de 2013, no IHC.



Bloqueios: revistas científicas universitárias no contexto da II Guerra Mundial - Fernando Clara (IHC e FCSH-UNL)

O episódio da proibição da revista Nature na Alemanha nazi e as discussões que motivou constituem a zona porventura mais publicamente visível do bloqueio comunicacional a que o regime nacional socialista submeteu a ‘ciência alemã’ a partir de 1933.
Desempenhando um papel decisivo na construção de um espaço internacional da ciência já desde finais do século XIX, a circulação das revistas científicas universitárias conheceu vários obstáculos a partir de 1914, com a eclosão da Grande Guerra, obstáculos esses que se agravaram significativamente, no caso alemão, após o tratado de Versalhes, em virtude das condições económicas críticas e dos obstáculos à circulação de pessoas e ideias a que o país foi sujeito pelas potências vencedoras.
A comunicação procurará chamar a atenção para estes bloqueios e obstáculos, bem como para algumas formas encontradas de os ultrapassar ou de os minimizar, debruçando-se sobre as consequências da guerra comunicacional que, na área científica e universitária, precedeu (e de algum modo prenunciou) a guerra militar entre a Alemanha e os Aliados.

Fernando Clara é Professor Auxiliar do Departamento Línguas, Culturas e Literaturas Modernas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. As suas principais áreas de docência e investigação compreendem os Estudos Alemães, os Estudos Culturais e a História das Relações Luso-Alemãs. Publicações recentes: Várias Viagens. Estudos oferecidos a Alfred Opitz. V. N. Famalicão: Húmus 2011 (em colaboração com Manuela Ribeiro Sanches e Mário Matos), Rahmenwechsel Kulturwissenschaften. Würzburg: Königshausen & Neumann 2010 (em colaboração com Peter Hanenberg, Isabel Capeloa Gil e Filomena Viana Guarda), Outros Horizontes. Encontros luso-alemães em contextos coloniais. Lisboa: Colibri 2009 e Mundos de Palavras. Viagem, História, Ciência, Literatura: Portugal no espaço de Língua Alemã (1770-1810). Frankfurt am Main/Berlin/Bern: Peter Lang 2007.


Painel V


Relações académicas e diplomacia paralela do fascismo italiano em Portugal na segunda Guerra mundial - Mario Ivani (IHC)

Durante a segunda Guerra mundial, Portugal foi alvo duma intensa propaganda por parte dos blocos em conflito, com especial referência às suas élites políticas e culturais. A importância do papel desenvolvido pelo Estado neutral no âmbito das estratégias de informação das potências beligerantes foi amplamente tratada pela historiografia.
Com a entrada em guerra da Itália a exacerbação da censura contra as formas de explícita propaganda de carácter político por parte do governo português determinou o incremento das relações culturais lato sensu e a oferta por parte da Accademia italiana de cursos e conferências nas principais cidades portuguesas e, em particular, nas universidades, a fim de aumentar aquela «influenza spirituale» que tencionava favorecer o caminho para uma maior colaboração e sintonia entre Estado Novo e fascismo italiano.
Esta comunicação começa por uma resumida comparação sobre a relação entre poder político e Accademia na Itália e em Portugal na época que antecedeu a segunda Guerra mundial. Segue-se a exposição do papel assumido pelo Istituto di cultura italiana como base operativa e centro impulsionador das iniciativas de trocas académicas entre as universidades. Serão esclarecidas as etapas mais significativas que contradistinguiram as relações académicas entre os dois países: a participação de docentes universitários italianos nos congressos organizados em ocasião da Exposição do Mundo Português de 1940, que relançava as boas relações estabelecidas no 1937 entre o mundo académico italiano e o português, no decurso das celebrações do centenário da Universidade de Coimbra. As fontes arquivisticas documentam as fecundas relações tecidas não só no âmbito humanista mas também entre as faculdades de Medicina e de Ciências; o interesse manifestado por parte portuguesa pelos assuntos ligados aos estudos coloniais, às políticas demográficas e à Antropologia criminal; o empenho posto pelas autoridades italinas no âmbito da Ciência das finanças e do Direito corporativo, e o importante apoio obtido pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Além disso, são documentados cursos e palestras de química, história da arte e musica tidos por docentes universitários italianos.
Nestas trocas culturais uma considerável importância revestiram algumas instituições como, por exemplo, a secção portuguesa do Istituto nazionale per gli studi sul Rinascimento, constituida em 1943, e outras associações apadrinhadas pelo Istituto di cultura italiana, tal como o Grupo dos amigos da cultura italiana, ou a revista Estudos italianos em Portugal, que produziu 8 volumes entre 1939 e 1943 e cujo objectivo principal resumia-se na publicação de ensaios de ilustres personagens do mundo académico e intelectual português sobre temáticas de cultura e de ciência italianas. Além disso, temos notícias dum caso singular que viu o envolvimento do leitor italiano e do leitor alemão da universidade de Coimbra numa conspiração dos serviços secretos nazifascistas em colaboração com alguns nacional-sindicalistas nos anos 1942-43.
Pois bem, a reflexão sobre tais compósitos aspectos, no contexto dum quadro mais geral das relações políticas entre os dois países, pode contribuir, na minha opinião, para o avanço da investigação comparativa sobre a natureza dos dois regimes políticos, outrossim oferecendo ideias de análise para uma mais ampla reflexão sobre as peculiaridades, a nivel europeu, da época dos fascismos.

Mario Ivani doutorou-se em 2007 em Storia delle società contemporanee na Università degli Studi di Torino. A tese foi publicada pela Editora Clueb (Bologna) com o título Esportare il fascismo. Rapporti di polizia e diplomazia culturale tra Italia fascista e Portogallo di Salazar (1928-1945) e obteve o Prémio da Fundação Mário Soares na edição de 2010. Anteriormente tinha publicado um longo ensaio de comparação entre o regime fascista e o Estado Novo na revista Studi Storici do Istituto Gramsci de Roma sob o título Il Portogallo di Salazar e l’Italia fascista: una comparazione (2005). Ivani tem desenvolvido, em seguida, actividades de investigação dentro de alguns projectos do Departamento de História da Universidade de Torino e lecionou na Escola de Especialização para professores da mesma universidade (2008-2009).
Actualmente é bolseiro post-doc da FCT no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Entre os seus interesses de investigação encontram-se: o estudo dos regimes fascistas em perspectiva comparada; as medidas de propaganda e de controlo dos regimes autoritarios; ciência e racismo na época entre as duas guerras mundiais; história do ensino.


Vindication against liberal University. War and Fascism in the Political Philosophy of Giovanni Gentile - Jose J. Sanmartin (University of Alicante)

In this paper, we develop an original study on Giovanni Gentile's theory on education and University. The idea of war played a relevant role from the very beginning of Gentile's Political Philosophy. According to his view, war is an instrument of purity for modern society. In this context, Gentile developed a new approach about freedom, subordinated to the force of State and the right of people. University has a duty in order to prepare for fight: Darwinism was adopted and manipulated by Gentile to create a Fascist vision of University, where ultranationalism and irrational contents were present. The fight against decadence was for Giovanni Gentile an indispensable element to advance and to win. For this reason, he supported a different model of University: education must be an extension of that State's force. New education, new citizen. The liberal University, according to his authoritarian mind, was a main source of weakness for the entire country.
The second part of the paper will be devoted to examine the debate between this Fascist political theory on University and War, and the response given by Benedetto Croce for his liberal staunch.
In the paper both contradictions and ideas of Gentile's theory will be study, in addition of the influence of his intellectual corpus on different ideological traditions.

José J. Sanmartín is a Full Professor of Political Science and Public Administration, University of Alicante (Spain) and a Doctor of Philosophy (2009) by the University of Murcia (Spain).
Some recent publications include “Inmigración, seguridad y democracia”, Barataria. Revista Castellano-Manchega de Ciencias Sociales, number 13, 2012, pp. 179-194; “Sagasta y la retórica política liberal”, in J. M. CABALLERO LOPEZ, J. M. DELGADO IDARRETA y C. SAENZ DE PIPAON IBAÑEZ (editors), Entre Olózaga y Sagasta: retórica, prensa y poder, Logroño, Instituto de Estudios Riojanos, 2011, pp. 213-228 and “La comunicación política del Presidente Clinton. El discurso del Estado de la Unión de 1998”, aDResearch ESIC (Revista Internacional de Investigación en Comunicación), second semester (July.December 2011), number 4, volume 4, pp. 96-117.